quarta-feira, 23 de julho de 2014

Alma ou substâncias químicas?

Uma pessoa está com depressão; sentimentos autodestrutivos podem levá-la ao suicídio e um antidepressivo faz com que ela retome a alegria de viver. Agora, com energia, vitalidade, se sente feliz e recomeça a própria vida quase perdida pelo lado escuro onde essa doença se abateu sobre ela. Onde está a alma ou um espírito beneficiando essa pobre pessoa? Podemos pensar em três possíveis fatos:

1 - O remédio não fez efeito nenhum; a alma foi o que restaurou os sentimentos positivos após um certo tempo;

2 - O remédio ajudou a alma a recuperar os sentimentos positivos  “perdidos” em sua mente;

3 - Não existe alma e o remédio efetuou o trabalho sozinho.

Pessoas morrem de inanição se a depressão tirar o apetite e elas não procurarem um médico. O próprio estado debilitado do indivíduo poderá ceder lugar a doenças infecciosas. Por que o espírito demoraria a agir? Falta de fé? Mas se nem a pessoa possui vontade, energia, para orar ou algo assim… O primeiro item é descartado.

Se um remédio, junto ou não com outros, ajudaram o espírito na recuperação, então algo está errado. O médico receita um medicamento esperando que a alma faça o resto? Que poder divino tem ela? Isto faz voltarmos praticamente ao primeiro item. Também o segundo item é descartado.

Resta-nos o terceiro item que me parece mais razoável. Se o nosso cérebro fosse influenciado por uma alma, ela não seria absoluta em qualquer fenômeno psíquico, não se precisando de nenhum remédio como está escrito nos itens “1” e “2”? 
E o que menos se sabe em nossa sociedade é que a depressão é uma doença, tratável com medicamentos. Alguns dizem que antidepressivos é remédio para loucos, em profunda ignorância com o que existe por aí em termos de informações em medicina. Outros chegam a dizer que são porcarias e usam drogas e/ou álcool para amenizarem os sintomas. Grande ignorância.

Em meu artigo “A base material dos sentimentos” (http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/sentimentos.html), na revista eletrônica Cérebro&Mente (www.cerebromente.org.br), eu destaco justamente esta influência dos remédios em nossas mentes, no papel decisivo do equilíbrio da química cerebral influenciando nossos estados emocionais.

Ali também eu digo em uma possível revolução filosófica-científica pois tudo que passaram para nós em conhecimentos até o século XX foi que o espírito é algo absoluto e responsável por tudo o que ocorre em nossos cérebros. Aí entram os pensamentos, pensamentos lógicos, imaginação, enfim, toda a nossa racionalidade também.

O cérebro é considerado o sistema mais complexo que conhecemos. Se uma alma ou espírito o comandasse, seria necessário tanta complexidade?

Nos anos 80 eu vi apenas umas três vezes na mídia a expressão “sistema límbico”, que é a principal região cerebral responsável pelos nossos sentimentos e emoções. Hoje aparece em bulas de remédios e até em capas de revistas. Que continue assim.