domingo, 6 de outubro de 2013

A necessidade humana da religião

Estamos na Terra há aproximadamente 300 mil anos. Independente do quanto houve de desenvolvimento da nossa inteligência nesse período, possuíamos um cérebro, no mínimo, muito próximo ao nosso atual, dotado de consciência, emoções, sentimentos e a própria inteligência.

Algo interessante de se observar é que a grande diferença entre nós e os nossos antepassados reside no fato de recebermos conhecimento "pronto", desde a infância, sobre o mundo que nos cerca, sobre nós mesmos, a partir do nosso meio ambiente social, principalmente dos pais e dos professores. Eles não; de poucas informações passadas dos mais velhos para as crianças e jovens, havia um universo muito grande de possibilidades a ser explorado na natureza.

Você precisou descobrir sozinho, na infância, se a água a ser ingerida era suja ou limpa? Você precisou, na adolescência, aprender fazer o fogo? É por isto que perguntas assim são tolas: somos tão acostumados a receber conhecimentos "prontos" que nem damos conta disto.

Mas o ser humano não precisava saber apenas como fazer o fogo para se aquecer ou se proteger de grandes animais. Ele, pela curiosidade e também até necessidade, queria saber de onde viera a água, o chão, a chama vermelha e quente do fogo, e, não só saber a respeito da natureza, mas também quem era ele, porque estava vivo no próprio entender do que era estar vivo enquanto via pessoas morrerem... Para aonde iam? Em termos de grupos de pessoas, queria saber como se relacionar com elas, como melhorar a convivência de todos porque viviam em comunidades. E aqui eu poderia fazer uma lista tão grande de conhecimentos, valores, regras, etc., para o ser humano viver bem, em todas as épocas e locais no planeta, que só apenas estes exemplos dão para você notar o quão grande seria essa lista.

Outro aspecto dessa busca incessante pelo conhecimento ocorria com algo também, acho eu, pouco comentado pela literatura: de onde vinham os pensamentos, a imaginação, as ideias criadoras de tantos conhecimentos, o raciocínio, etc., sendo tudo isto tão obscuro para eles que até hoje muitas pessoas não acreditam, ou possuem uma enorme dificuldade de se atribuir essas atividades apenas às interações entre neurônios e áreas cerebrais específicas?

A que atribuíam toda a nossa atividade mental, que não era matéria comum, que não era nada parecido com tudo que viam ao redor de suas existências? Ou, a quem atribuíam tamanha força mantenedora da vida de todos?

E será que os sonhos não os influenciavam a pensar na existência de outros mundos além deste, em que saíam de seus corpos para se aventurarem neste e em outros planos desconhecidos quando acordados? Ou então que entravam em contato com o sobrenatural?

Em meu artigo neste blog, "O surgimento de uma religião como uma necessidade humana", eu falei apenas da imaginação das pessoas de como poderia surgir a região local de onde estavam. Aqui eu generalizo.

Já em outro artigo também neste blog, "As Bases de como eu vejo o Relativismo Religioso", na nota 01, eu falo da relação entre a criação de objetos, utensílios, armas, etc., ou seja, de tudo que os caçadores-coletores puderam criar com matéria-prima originada nas plantas, argila, ossos de animais, etc., através dos elementos da natureza impossíveis desses homens reproduzirem. Uma frase do artigo: "Faz parte da nossa natureza humana, e isto não é novidade, de sempre perguntarmos de onde veio tal objeto, quem construiu, como, para quê e muitos "etc." a respeito de... tudo! Quem criou tudo?!". Este "tudo", no final, também seria a matéria-prima e alguém ou algo muito poderoso a criou.

Se entes divinos, ou um só, criou tudo, com homens e mulheres também, é razoável supor que os antigos humanos pensassem que ele (s) fosse (m) muito poderoso (s), até com respeito às mentes e a vida de todos. E aqui é o início das religiões porque surgiram crenças e seitas no planeta todo, não só em um local, sobre entes divinos no comando de... Tudo! Da estruturação dessas seitas e crenças vieram religiões.

Mas entes divinos poderiam também inspirar as pessoas sobre como e o que formularem com respeito a regras sociais, valores, etc., porque estavam, segundo esses antigos, em grande parte no comando dos seus cérebros.

Gosto de pensar nos dez mandamentos da história do cristianismo formulados por Moisés. "Não roubarás", "não matarás", "não levantar falso testemunho", são três grandes exemplos de regras muito importantes para grupos sociais. Ele esteve no monte Sinai e recebeu uma inspiração, diretamente ou não, do seu deus segundo o cristianismo, para tanto. Em minha opinião foi um trabalho de gênio que se retirou de todos para refletir e criar uma obra perfeita para as pessoas religiosas em pequenas frases, relacionando regras e valores com o deus criador dos homens, das mulheres e toda a natureza. E se você pensar nos dez mandamentos sem as regras ligadas ao deus cristão, ele ainda é perfeito como um conjunto de leis para qualquer sociedade, um grande avanço para aquela época, naquela pequena região do planeta.

Para este artigo denominado "A necessidade humana da religião", notamos que para o surgimento de uma religião não se faz necessário apenas algumas crenças. É preciso, já que se acredita em um deus absoluto, um conjunto de leis, regras, rituais, valores religiosos, etc., pelo simples fato desse deus estar por trás de tudo, permeando e influenciando todo um povo com necessidades de entender o meio que o cerca, como lidar com o bem e o mal, como entender a origem de tudo, o que e quem é o ser humano, suas origens, o fim e o que virá depois da morte, o maior medo que a humanidade jamais enfrentou e enfrenta.

Difícil englobar em um pequeno texto tudo o que é necessário para isto e muito mais, e, portanto, falei mais em deus, deuses, valores sociais, enquanto que valores religiosos eu explorei no artigo "Como se formam os valores religiosos em nosso cérebro". E inventaram religiões para explicarem às pessoas, em todas as épocas e lugares, infindáveis ensinamentos de todas as formas possíveis. Por isto elas não são completamente iguais. Depende do local, da cultura anterior e atual do povo, de fatos históricos, etc.

Por isto mostrei em outros parágrafos, de modo bem resumido, um pouco do desenvolvimento das religiões. O ser humano precisa de ensinamentos e orientações detalhadas e aqui entra a necessidade da religião. Um assunto bem estruturado satisfazendo às necessidades das pessoas, ao que pertence a elas, desde quando nascem: lidarem com o potencial em acreditar no sobrenatural, de aprenderem o que existe nele de útil para as suas vidas, algo de absoluto, tendo a fé como o mais poderoso sentimento envolvido em todo esse processo.

Na verdade, quando "o primeiro" ser humano surgiu na Terra, ele passou a olhar para si mesmo e o mundo que o rodeava. E a partir daí percebeu que possuía um enorme potencial para pensar e sentir muitas coisas. Desse ponto em diante a influência do que ele imaginou ser o sobrenatural fez com que chegássemos até hoje com algumas religiões de mais de um bilhão de adeptos.

Mas... Pelos avanços da Neurociência, que digo nos meus textos sobre o Relativismo Religioso, a fé e o acreditar no sobrenatural são produtos de reações físico-químicas como um recurso da evolução, para um cérebro dotado de consciência e amor-próprio, não sofrer consequências desastrosas com problemas emocionais oriundos de questões existenciais, etc., de tudo já mencionado neste texto e nos outros que escrevi.

Então, como ficamos? Algo é certo: a humanidade passou dezenas, centenas de milhares de anos sem saber dessa influência das atividades neuronais porque nunca, e isto é óbvio, conheceram a Ciência em um nível como o de hoje. Só do século passado para cá foi possível examinar os fenômenos biológicos responsáveis pela nossa racionalidade mencionada no quinto parágrafo, "de onde vinham os pensamentos, a imaginação, as ideias criadoras de tantos conhecimentos, o raciocínio, etc.", e, complementando, as emoções e os nossos sentimentos.

Como eu disse no primeiro artigo de Neurociência que escrevi, "A Base Material dos Sentimentos", também na nota 01, acredito em uma revolução científica e filosófica afetando as religiões, porque, de uma alma ou espírito, criando nossos sentimentos e a nossa racionalidade, a Ciência descobre atualmente algo além de tudo que nós humanos imaginávamos até hoje.


 - Nota 01:

PINTO, A. Arruda. A Base Material dos Sentimentos. Cérebro&Mente, Campinas. Número 12, fev./abr. 2001. Disponível em:

PINTO, A. Arruda. A Base Material dos Sentimentos. Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências. Disponível em: http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/. Acesso em: 06. 10. 2013.


 - Outros textos meus como base para este assunto:

“O porquê dos nossos sentimentos” – Cérebro&Mente - http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/material3.html - Acesso em: 06. 10. 2013. E em Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociência -http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br;


“O porquê dos nossos sentimentos - II” – Cérebro&Mente - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html. Acesso em: 06. 10. 2013. E em Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociência - http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br;

“O poder dos sentimentos e das emoções” – http://opodsenemo.blogspot.com.br/;

“Consciência, amor-próprio, fé e transcendência – A moderna Teoria da Evolução” - http://coamoprofetrans.blogspot.com.br/;

“Psicologia evolutiva – Uma visão básica sobre o assunto” -- http://psicoevolutiv.blogspot.com.br/;

“Por que existe o amor? A explicação científica é a verdadeira” -- http://nepsicoreli.blogspot.com.br/;

“O acreditar e a fé como vantagens evolutiva” -- http://finalizacaoargos.blogspot.com.br/;

“Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências” -- http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/;

“Neurociência e consciência” -  http://neuconblog.blogspot.com.br/;


 - E todos os artigos deste blog.

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