domingo, 13 de janeiro de 2008

O acreditar e a fé como vantagens evolutivas

Começo este texto com as duas definições de acreditar e a fé, tiradas de um mesmo dicionário. Simplifiquei-as sem alterar o texto, evidentemente, apenas para não ficar cansativo ao leitor.

Acreditar: crer, dar crédito a, ter como verdadeiro. Abonar (-se), conferir reputação a, tornar (-se) digno de estima. Ter confiança.

Fé: crença, crédito; convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção. 2. Crença nas doutrinas da religião cristã. 3. A primeira das três virtudes teologais. 4. Fidelidade a compromissos e promessas; confiança: Homem de fé. 5. Confirmação. 6. F. de Cristo: a crença ou a religião cristã. F. divina: crença que se apoia na revelação.

Nota-se, de imediato, dois exemplos de absolutismo religioso nos itens “2” e “6”. Em “2”: cita-se “crença nas doutrinas da religião cristã”. Em “6” a “fé de Cristo: a crença ou a religião cristã” e também a “fé divina: crença que se apoia na revelação”.

Por que não colocaram diretamente em “2” algo como “crença que se apoia na revelação em todas as religiões do planeta, em todos os tempos?”. Óbvio, o dicionário é de um país cristão e faz-se necessário aparecer algo cristão! Por que não teria em “2”, “religião muçulmana”, “xintoísta” etc.? Seria exótico para quem lesse não é mesmo? Cristãos ouvindo falar em Xintoísmo?... O que é isto? Nunca aprenderam na escola e com os pais...

Em “6” falam da “fé em Cristo: a crença ou a religião cristã”. Citam um nome conhecido e respeitado por nós, cristãos. Mas por que não colocam outros nomes, também ligados a outras religiões? Aí, podem ter certeza, seria o fim do dicionário! E aqui surgem os motivos deste artigo: o meio moldando as cabeças, crenças, religiões, etc. - das pessoas, de forma radical, devido ao absolutismo religioso!

Um bebê vem ao mundo com nada ou quase nada de informações extra-genéticas. Conforme o tempo passa seu cérebro irá crescer, absorvendo estímulos do meio ambiente que o cerca, com seus neurônios se ligando de maneira a aprender, se comunicar, formar modelos da realidade – a água é fluida, escorre entre as mãos - etc. O que ele realiza, por exemplo, ao tirar sua mão de um copo de leite muito quente, é uma reação através de informações intra-genéticas. Já trouxe consigo, como uma reação natural do tato, engendrada em seu cérebro pelos seus genes, mas agora outro sentido, a visão, e, em conjunto com a inteligência e sua memória, o farão a ser cauteloso em situação parecida, chegando com sua mão próxima a outro copo, com aquele líquido branco, verificando se pode pegá-lo ou não. Observará sua mãe esquentando aquele líquido no fogo em outro recipiente para colocá-lo em copos. Isto são experiências a ensinar as pessoas sobre o mundo diante de si. A informação extra-genética é algo muito poderoso em sua vida.

Mas não só o intelecto atua na criança em seu despertar para as informações e experiências vitais ao seu desenvolvimento e adaptabilidade. As emoções estão presentes também. Ela voltará a comer uma fruta, do tipo daquela em que o gosto lhe proporcionara uma sensação maravilhosa de bem estar, de prazer, satisfazendo seu desejo mesmo sem fome. Vontade, ânsia, desejo, emoções básicas do ser humano quando da interação com o seu meio ambiente.

Como disse em meu artigo “O Porquê dos nossos Sentimentos – II” - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html, no meu blog “Neurociência, Teoria da Evolução, Sentimentos e Emoções” - http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/ e na revista eletrônica Cérebro&Mente – www.cerebromente.org.br - somos seres racionais e emocionais, não podendo separar uma característica da outra quando em muitos envolvimentos interativos. E acontecem nas mais diferentes formas e intensidades.

A alimentação é algo imprescindível na vida de um ser humano, na sobrevivência de sua espécie, mas também podemos falar em algo também importante, ligado ao seu bem estar e com a sobrevivência: o equilíbrio emocional. Irei falar sobre ele nos dois próximos parágrafos para depois relacionar com o que menciono abaixo deles.

Ele é fundamental em nossas vidas pessoais e profissionais. Sem ele não poderíamos viver na plenitude em que consideramos a vida para nós. Não dormiríamos quantitativamente e qualitativamente a repormos nossas forças, estaríamos em constante choque com os nossos semelhantes ou passivos demais para lutarmos em busca de nossas necessidades materiais, viveríamos com medo de tudo que nos cerca prejudicando seriamente nosso presente e futuro etc.

Nosso equilíbrio é afetado por desordens internas e/ou externas a nós. Nascemos com metade dos genes de cada um de nossos pais. Os genes constroem nossos cérebros a partir da concepção e um ou mais erros nessa construção poderão levar-nos a problemas mentais no futuro. Mas não é só isto. Conforme o cérebro se desenvolve da idade infantil até a fase adulta, os estímulos negativos e positivos do meio, simplificando ao máximo possível esse fato, poderão afetar as ligações sinápticas dessa arquitetura neural, levando-o a um mau funcionamento de várias de suas áreas. Isso acarreta em comportamentos inadequados ao mundo em nosso redor.

Uma criança tem em seu início de vida muita informação passada pelos pais, irmãos, parentes, amigos, escola etc. Seu cérebro vai se desenvolvendo com todas essas informações e também com conceitos a respeito de tudo. Essa época em sua vida é uma das mais importantes na formação de seu caráter e personalidade.

Imagine por exemplo uma criança em que seu meio ambiente é formado por pessoas adeptas do cristianismo. Logo cedo alguém diz para ela: “olha, existe um Deus que criou tudo que existe no mundo”. “Ele criou o céu que você à noite, as estrelas, o Sol etc... Plantas, animais, os rios...”. É evidente a aceitação, a admissão por parte da criança de informações deste tipo, pois vêm de pessoas importantes para ela e porque, naturalmente, existe uma poderosa capacidade dela em... Acreditar! Uma questão ela pode achar absurda, deixar para lá, poderá ouvir mais o pai que a mãe sobre um fato religioso etc. Dá para imaginar a quantidade de conceitos e informações e como são passados a ela de forma inquestionável e... Absoluta?

Na escola, com amigos, nas outras cidades e regiões de seu país, com pessoas adultas que mal a conhece etc., todo o seu meio sintonizado no cristianismo. Ela cresce sendo ensinada do modo como o seu meio ambiente é, e, de uma maneira ou de outra, acredita nas histórias. Seu cérebro se desenvolve com essas informações e é possível, quando jovem ou adulta, passar a estudar e crer em outras religiões. Mas, na maioria dos casos, agora generalizando, terá uma marca permanente desde a infância. Seus neurônios se ligaram formando redes quase indestrutíveis...

Simplificadamente, para o propósito no qual me dedico a este artigo, os fatos ocorrem deste jeito, com o futuro adulto passando a acreditar nos ritos, dogmas, crenças etc., do... Cristianismo! Da igreja a ele associada!

Acreditar é crer, ter como verdadeiro. Fé é crença, crédito, confiança, convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção. A pessoa a qual estou me referindo aprenderá, acreditará e terá fé naquilo que a ensinaram, sentindo que pode reverenciar seu Deus para qualquer propósito.

No meu artigo “O Surgimento de uma Religião como uma Necessidade Humana”, http://orelativismodasreligioes.blogspot.com/2008/01/o-surgimento-de-uma-religio-como-uma_11.html, cito um grupo de homo sapiens em uma ilha, em que ideias sobre de onde vieram, porque estão vivos e para onde irão após a morte, é um fato presente e perturbador em suas mentes. Questionamentos como este sempre existiram na imaginação das pessoas em todas as épocas e lugares. 

O equilíbrio emocional pode sim ser alterado se as pessoas não tiverem a capacidade em crer e colocar esta vantagem em prática. Naturalmente, quase automaticamente isto é feito, devido à condição em que viemos a este mundo, com consciência, fé e amor próprio, sendo isto um tema já abordado por mim em “O Porquê dos nossos Sentimentos” no meu blog “Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências”:
http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com/2008/01/o-porqu-dos-nossos-sentimentos_28.html, e também na revista eletrônica Cérebro&Mente –www.cerebromente.org.br. Em minhas palavras: “A consciência, indo mais longe, precisa necessariamente de, no mínimo, dois suportes emocionais para perpetuar, duas forças poderosíssimas: a fé e o amor próprio. Que espécie de seres conscientes conseguiria sua perpetuação se não acreditassem em si mesmos? No seu trabalho, na sua luta diária? Ou, como na maioria dos habitantes do planeta, em algo divino para se apoiarem? Nem levantariam da cama! E que sistema poderia também sobreviver se não gostasse de si próprio? O que adianta um corpo forte em uma mente fraca? Talvez cheguemos a um fato universal: qualquer ser consciente no cosmos terá este tipo de característica. Talvez não exista nada somente racional”.

Conforme nas definições de acreditar e fé, o acreditar pode ocorrer sem a fé. Você acredita em algo, mas não possui fé naquilo, não coloca suas forças e energia se valendo deste sentimento poderoso. Um cristão pode acreditar em Deus, mas não ter fé suficiente para seguir sua religião como outros o fazem. Mas ele acredita... E acreditar, como se vê na definição, é “tomar como verdadeiro”. Mas como ele possui essa verdade? As definições de tudo de sua religião? Foram passadas, como disse acima, muitas informações, conceitos etc., pelo seu meio ambiente: seus pais, escola, ambientes sociais... E fatos desses tipos acontecem em todo o mundo, em todas as épocas, é válido para tudo que o homem criou até hoje como deuses, Deus, dogmas, seitas, rituais, religiões etc. Meio ambiente não é só a natureza... Para o homem o conceito é amplo, maior que para outros organismos vivos em seus habitats, mesmo possuindo relações sociais sofisticadas em relação a outros, como os primatas.

Um ateu, embora tenha uma percepção em que consegue imaginar algo além do mundo material, propriedade esta comum aos humanos, não acredita em deuses ou Deus, influenciando nosso mundo. Não sente nada, “não precisa” e mesmo se sentir alguma coisa poderá rejeitar usando sua lógica, por exemplo. Dirá o seguinte: “é uma invenção da minha mente”. Ele é minoria nas populações porque essas sim necessitam da fé e do acreditar. Agora, ele acredita em si próprio, possui fé em si mesmo, porque senão, novamente mencionando uma frase, ele nem levantaria da cama para... Viver! Viver em seu conceito que todos conhecem: trabalhar, passear, estudar etc. Por isso eu disse “quase automaticamente” no antepenúltimo parágrafo acima... Acorda, levanta e começa um novo dia... Sempre fora assim para nós humanos e sempre será...

Outra pessoa possui fé inabalável em suas crenças! Seja qual for a sua religião, o que passaram a ela, os dogmas e rituais são absolutos a ponto de melhorar seu estado emocional quando necessário.

Isto dá um artigo inteiro, mas, por exemplo, pense em alguém que perdeu um ente familiar, próximo. Ela é cristã e acredita, possui fé suficiente para pensar, sentir, que seu familiar estará em um lugar próximo a Deus, na forma de alma... Espírito... Difícil, simplificando o assunto, achar alguém mais forte que ela. No mínimo suportará a dor quanto à outra cristã praticante.

Em “E o Homem Criou Deus”:
www.orelativismodasreligioes.blogspot.com e www.genismo.com, falo com estas palavras: “É confortante para o homem acreditar em algo superior, transcendental, que o ajude e o ampare. Ter consciência do mundo, da existência de uma separação entre nós e o que nos cerca, pode levar-nos a uma solidão juntamente com uma insuportável crise existencial. O homem não aguentaria viver neste mundo sem algo de superior a acreditar. Mais uma vez, outro “amortecedor” natural oriundo da fé”.

Então temos: sentimentos a respeito de viemos, porque estamos aqui e para onde vamos após a morte. A impossibilidade de entender o infinito e, aqui, colocando esta questão, digo que o ser humano sempre buscou algo para justificar, entender a criação... Para o homo sapiens tivera que existir algo a criar tudo e como esse tudo não era pequeno, o “algo” necessariamente seria superior. Ou “algos”, referindo-me a deuses porque a maioria das sociedades humanas até hoje foram politeístas.

A capacidade humana em acreditar e possuir fé, sociedades a criarem religiões, seitas, crenças, etc., como forma de entender questões cruciais de suas existências, de suas condições por vezes limitadas, porque senão, o próprio equilíbrio emocional estaria comprometido. Aliás, um vem junto com o outro, deixando as pessoas com uma razoável estrutura emocional para viverem em um mundo muitas vezes hostil. E isto se aplica até hoje... Sem estrutura emocional, sem equilíbrio, você teria uma vida confortável em muitos aspectos? Não! Ele não é necessariamente tudo, mas é muito importante.

Um sistema complexo, consciente de si, capaz de imaginar por lógica que existe um mundo além do nosso, teria que possuir vantagens evolutivas como o acreditar e a fé, a preencher esse outro mundo com seres sobrenaturais capazes de realizações a nosso favor. Elas fazem parte de outros sentimentos e emoções necessários à sobrevivência de nós, humanos, no planeta.

Uma professora minha contou à classe que, um ateu, ao saber de sua aprovação em um concurso, disse: “graças a Deus!”. Daí ela completou: “mesmo os ateus ainda possuem alguma credulidade, ainda que não a admitam”. Não! Somos “bombardeados” desde crianças a tantas expressões: “Deus lhe pague”, “Deus quis assim”, “Deus te ouça”, “vá com Deus”, “fique com Deus”, etc., que é muito fácil uma pessoa incrédula “soltar” uma frase dessas em um momento de emoção.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O surgimento de uma religião como uma necessidade humana

Escrito em: 11/01/2008. 
Revisado em: 10/10/2018. 

Palavras-chave: Religião, Xistoísmo, Japão, Relativismo religioso, Consciência, Acreditar, Fé. 
  
Imagine o seguinte cenário: um grupo de homo sapiens em uma ilha. Essas pessoas podem ser em número de centenas ou mesmo milhares. Eles apenas enxergam poucas ilhas distantes, não sabem o que é um continente porque nunca estiveram lá, não possuem tecnologia a fabricar barcos e explorar o oceano a sua volta. Possuem alguns artefatos feitos de barro representando homens, mulheres e animais, vasos de cerâmica, utensílios de bronze mostrando a capacidade de dominarem o fogo, de se lidar com esse metal. 

Como foram parar lá? Maremotos isolando sua ilha ou os seus antepassados vindos de alguma forma desconhecida por eles, já nasceram lá... 

O universo para eles é o céu a terra e o mar. Os elementos as plantas, aves e animais. Possuem dificuldades com o meio ambiente: tempestades, escassez de alimentos e água potável, hostilidade de feras, inimigos dentro da própria comunidade, etc. 

Lutam por sobrevivência, anseiam por épocas melhores, não entendem sobre doenças, talvez algumas plantas aqui e ali para amenizar algum problema de alguém. Inventam palavras para exprimirem seus sentimentos, modos mais adequados de se comunicarem entre si, suas descobertas, ideias, anseios... 

Possuem alguns entretenimentos. Se divertem em rios e cachoeiras. À noite se reúnem em volta de fogueiras, talvez já exista alguma forma de música, ritualística ou não, as crianças brincam despreocupadamente, as mães acompanham os homens ou conversam entre si. 

Mas todos sabem: depois de certo período, uma luz irá brilhar, iluminando toda a ilha. Assim, suas lutas recomeçarão, tentando não se abaterem com os estímulos negativos oriundos do meio ambiente. E não só esses estímulos os perturbam. Algo vindo de dentro, devido a um questionamento possibilitado pela inteligência e pela consciência de si, os perseguem desde há muito tempo: quem são, quem criou aquelas ilhas, o porquê do bem e do mal, qual o significado da vida e da morte? Esta última é a mais perturbadora de todas porque mexe com algo absoluto para eles: nenhum escapa. Todo ser vivo, aquilo diferente do mundo mineral, nasce, cresce e morre. As crianças são oriundas do ventre das mulheres e um dia irão morrer como os idosos, inimigos em luta, acidentados, etc. 

Alguma saída existe para esse conflito emocional oriundo de dilemas existenciais? Porque, no meu modo de ver, um sistema complexo como o cérebro, consciente, teria graves problemas emocionais e não funcionaria direito. Esses nativos estariam comprometidos seriamente com suas vidas, com a perpetuação do grupo na ilha. Mas, como todos os homo sapiens, eles possuem a capacidade de acreditar em si mesmos e em entes sobrenaturais. Proteção, segurança, esperanças, fé, etc., a motivá-los para enfrentar os seus obstáculos. 

Além de tudo palpável a eles, imaginam criaturas poderosas e sentem suas existências. Começam a dar nomes a elas, falam de seus descendentes também poderosos, falam dos sentimentos de suas presenças em situações de perigo às quais sobreviveram. 

Para esse povo o cenário da criação começou com o mar, mas alguns mitos referiam-se à terra em seus pés como um fluído, onde os deuses nasciam como plantas, do chão. Várias descendências de deuses ocorreram até dois deles, um masculino e um feminino, querendo criar o mundo, precisamente aquelas ilhas. Com um arremesso de uma lança ao mar, houve uma solidificação dos respingos na água dando origem às mesmas. 

Esse casal de deuses resolveu ir morar nas ilhas, criando rochas e montanhas, criando outros deuses menores, sendo esses responsáveis pelo aparecimento dos animais e plantas. A natureza estava formada. 

O deus feminino veio a falecer ao parir o fogo. Seu esposo foi atrás dela até o país dos mortos querendo a sua volta, mas se perdeu no caminho. Por essa experiência ele se lavou e da limpeza de seu olho esquerdo nasceu a deusa Sol. Do outro olho nasceu a deusa Lua e do nariz o deus da tempestade. 

Divindades surgiram de outras partes de seu corpo. Uma foi incumbida de governar a noite e, outras duas, o mar e o céu. O governador do mar não fora competente em sua tarefa, sendo afastado dessa tarefa. No exílio conheceu uma jovem, filha de um deus e casaram-se. Deles nasceu uma grande quantidade de divindades e um neto de uma delas foi o bisavô de um imperador, o fundador do primeiro estado... Japonês! 

Sim, eu estava todo esse tempo falando simplificadamente do surgimento do xintoísmo, a religião japonesa, reconhecida como tal somente no século sexto. Houve fusão de várias ideias entre o Xintoísmo e o Budismo, influências taoístas e confucionistas, conforme o Japão foi-se desenvolvendo e seu povo entrando em contato com outras civilizações, principalmente da China. 

O Xintoísmo fala de duas almas quando um ser humano nasce, uma vinda do céu e outra da Terra. Na morte cada uma delas volta de onde veio e a da Terra será julgada pelas atitudes em vida. Sentenciada a servir no inferno, devido às suas falhas, após o cumprimento da pena ela renasce na Terra ou se torna um demônio. Tornam-se espíritos como recompensa quem fizeram o bem em suas vidas. Desses, alguns tornam-se guardiões de lugares específicos, outros irão guiar seus descendentes e existem aqueles enviados a servirem aos deuses das cidades. Poucos são deificados. Isso se realizarem feitos excepcionais.
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A religião japonesa foi considerada pelos Estados Unidos e os aliados como uma das principais fontes de inspiração nipônica militar e expansionista durante a segunda guerra mundial. Então, cuidaram de neutralizá-la chegando a proibir qualquer apoio oficial de órgãos públicos a partir de 15 de dezembro de 1945. Não se consegue retirar totalmente de um povo uma religião a partir de decretos e apesar de dividir espaço atualmente com o cristianismo, confucionismo, taoísmo e budismo, ela continua sendo a religião com o maior número de seguidores. Isso porque o xintoísmo é a essência do Japão, da sua cultura, como uma religião de berço, indígena, própria, nascido em suas ilhas com tradição milenar. 

Daria para acreditar que eu estava falando de um fato nativo como um dos fatores da grandiosidade da cultura e sociedade japonesas, desde os primeiros parágrafos? Claro, alguma elucubração eu fiz quanto do cenário indígena e fatos possíveis acontecendo nesse tipo de sociedade. Mas os deuses existiram, existem (para eles) e omiti os nomes para não se desconfiar logo de início da minha intenção em transmitir, com este pequeno texto, a força das crenças, sendo absolutas em todos nós, mas as formas das religiões surgidas a partir delas são bem diversificadas. Fiz como exemplo o Japão, uma superpotência, onde as raízes da sua cultura e sociedade podem parecer tolas, ingênuas para muitos de nós! Daí o relativismo religioso. (1) 

O “acreditar” e tudo derivado dele, incluindo a fé, é uma força evolutiva muito poderosa em nós humanos. Ela molda nossas sociedades e nosso modo de vermos o mundo a partir do momento das nossas criações de mitos, crenças, regras de conduta social, deuses ou deus. 

Podemos ver que as religiões, nascidas dessa nossa capacidade de acreditar e sentir tem muito a ver até com a geografia do local de nascimento. No Japão existem muitos vulcões – montanhas – e os deuses masculino e feminino, respectivamente, Izanagi e Izanami, foram quem criaram as rochas e as montanhas. E também foram quem arremessaram as lanças das quais os respingos no mar fizeram surgir ilhas tão comum aos nipônicos. Afinal, o Japão é um conjunto delas. 

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Nota: 

01 - Comento da necessidade do povo nativo daquelas ilhas em compreender tudo ao seu redor, de estarem limitados por água em todos os lados, fatos os quais, antes do surgimento das embarcações por eles produzidas, eram realmente muito sérios em suas vidas. Suas terras seriam inundadas? Havia outros locais mais seguros? Por que estavam fadados a viverem e morrerem somente ali? Para um povo ainda muito ignorante, estas e outras muitas questões passíveis de imaginarmos, eram um verdadeiro pesadelo para eles. Nada como emoções e sentimentos ligados à imaginação para criarem deuses e fatos a deixarem as suas condições humanas bem confortantes... 


Referência: 
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1 – Argos Arruda Pinto. O Relativismo religioso e o que existe por trás disto. 2007. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2007/03/o-relativismo-das-religies-e-o-que.html >. Acesso em: 10/10/2018.