sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O paradoxo dos gêmeos religiosos

Escrito em: 12/12/2008.  
Atualizado em: 27/09/2018.

Palavras-chave: religião, relativismo religioso, cristianismo, hinduísmo, xintoísmo, paradoxo. 

A ideia deste artigo havia faz tempo, mas um fato corroborou com a minha iniciativa em escrevê-lo: até pessoas com nível educacional superior podem se enganar a respeito de como os dogmas ou os ensinamentos das religiões, elas próprias, se processam em suas mentes. O fato foi a frase "é genético", como se você, por ter sido filho de pais católicos, por exemplo, nascera católico, mesmo sem saber muitos detalhes dessa religião. 

Esse assunto surgiu entre amigos os quais a maioria deles, estávamos em oito, não sabia de onde vieram as suas crenças, suas verdades religiosas, seus valores religiosos e aqueles secundários, terciários, ou mais, oriundos dos primeiros.  

Mas, nascemos já com a religião dos nossos pais, do nosso meio social, o nosso meio ambiente social, de amigos e mesmo de pessoas desconhecidas, às vezes nos falando sobre assuntos pertinentes a ela? A resposta é: claro que não! 

Uma criança indiana de seis anos de idade acaba de aprender o nome dos três deuses criadores e destruidores do universo, Brahma, Vishnu e Shiva. Ela não registrará essa informação em seus genes e sim na memória. Não irá passar para seus descendentes essa informação só se... Ensinar a elas! E aqui está o ponto de máxima deste artigo: a educação e a formação de valores religiosos baseados em condições culturais são a base a levar as pessoas a formar suas ideias, verdades, dúvidas, crenças, etc., a respeito de suas religiões. 

Uma criança católica aprendendo aos sete anos o valor da sua presença em uma missa, da igreja de seu bairro, transmitirá essa informação com seus sentimentos aos filhos de maneira genética? Não! Terá que ensinar-lhes! 

Podemos pensar em uma experiência, embora nunca a colocaríamos em prática devido às questões humanas e éticas, morais e legais nela implicadas: dois gêmeos são separados ao nascerem. Um é levado a um país muçulmano e outro ficaria no Brasil. Seriam criados por famílias diferentes, em contextos sociais diferentes. Após uns trinta anos se encontrariam. 

Sem realizar essa experiência, sabemos do possível resultado de um estranhar a religião do outro. O brasileiro concorda com a relação de Pai e Filho entre Deus e Cristo e este veio ao mundo para nos salvar. A Bíblia é o seu livro sagrado no qual existem ensinamentos dos Dois. O muçulmano dirá sobre Cristo - e aqui já começa a briga – como um profeta em nível terreno e humano. Maomé é o verdadeiro messias, quem escreveu um livro sobre tudo da vontade do deus Alá para o povo na Terra. O livro é o Corão e nem queira o brasileiro dizer a ele do quão errado é esse livro sobre a nossa realidade nesse mundo! 

Quem está certo? Cada um se achará certo. E quem muda este estado de coisas? Ninguém! Os gêmeos não se entenderiam, poderiam se respeitar pois são irmãos, etc. Muitas são as situações possíveis decorrentes de uma história assim, mas um fato é verdadeiro: mudar as crenças tanto de um como as do outro seria quase impossível. Digo quase porque um cristão pode se converter em muçulmano e vice-versa, mas vemos por aí uma indiferença quase total de pessoas religiosas quanto às crenças de outra religião. 

Lembrando da minha infância, logo quando comecei a tomar consciência do mundo, depois dos quatro anos, vejo em memória eu e meus pais entrando na principal igreja católica da cidade. Eu admirava aqueles santos nas paredes e minha mãe dizia algo sobre a história deles, simplificadamente claro, pois eu era uma criança. Aquele lugar foi o ambiente mais bonito conhecido por mim até então e aprendi da importância daquele tipo de local para louvor e adoração a Jesus Cristo e Deus. 

Lembro das festas natalinas. Qual criança não gosta de presentes? Qual criança não gosta das comidas típicas dessas datas? Mas aprendia sobre o dia vinte e cinco de dezembro como o dia do nascimento de Cristo. O mesmo Cristo relacionado com os santos da igreja em histórias contadas pelos mais velhos. 

Mas a minha vida naquela época, como a vida de todos os meus amigos não era só de Natal e igreja. Pais de amigos contando sobre a criação divina, amigos com mais idade dizendo de particularidades da Bíblia, mesmo incompletas ou um pouco distorcidas, pois eram crianças também, sujeitas a erros. Professores, os amigos da escola, as pessoas nas ruas, todos se referindo a um contexto complexo e absoluto a me informar, educar, ensinar e a respeitar os fatos do cristianismo. 

Meu cérebro, como o de todas as crianças, estavam em desenvolvimento. Isso era: de uma massa bruta, não lapidada, o nosso meio ambiente social influía decisivamente na formação do nosso caráter, da nossa personalidade e dos nossos valores religiosos, alguns já citados no começo deste texto, todos influenciados pelo cristianismo de forma direta e absolutamente inquestionável. 

Não eram somente as histórias, ensinamentos e fatos das vidas daquelas pessoas maravilhosas ilustradas em revistas, livros, na igreja ou se falando delas em conversas das pessoas sobre a nossa religião a nos educar. Nossos valores, nossas concepções de como é este mundo, o certo e o errado provenientes das interpretações do nosso Livro Sagrado, a Bíblia, eram influências a moldarem nossas cabeças. "Não roubarás”, “Não matarás"... Não serão todas essas influências uma forte carga emocional para nós, desde as primeiras idades, a marcarem nossas vidas e condutas perante às pessoas e a nossa sociedade? Não há dúvidas sobre isso. 

Tenho conversado com muitas pessoas religiosas sobre esse tema. Pessoas assíduas praticantes de suas religiões. O católico frequentando suas missas, rezando, orando, louvando os seus santos. O evangélico sempre presente em cultos, contribuindo com o dízimo para com a sua igreja, lendo e/ou estudando o Novo Testamento, hinduístas e budistas praticando os seus mantras, etc. 

Posso dizer algo importante e surpreendente sobre essas conversas: todos sem exceção admitem as "verdades" de suas crenças como absolutas, suas religiões como as corretas, desprezando, ficando indiferente quando digo das "verdades" das outras. Chegam essas conversas a serem motivos de discussões acaloradas quando eu teimo em dizer da relatividade das religiões, tema este sempre abordado por mim em meus artigos em vários blogs. Digo neles do desprezo de cada pessoa com as crenças das outras. Isto mostra claramente o relativismo entre elas. Suas "verdades" são relativas, dependem de onde cresceram, a cultura local, religião local, etc. Leia o meu artigo "O relativismo das religiões e o que existe por trás disto", (1). O absoluto é a capacidade do ser humano em crer, sentir algo sobrenatural, ou ter fé somente em si mesmo, como é o caso dos ateus. Esta capacidade, e acredito nisto, veio da evolução sobre os seres humanos e se tornou uma vantagem para a perpetuação da espécie no planeta como está no artigo mencionado. 

Em experiências com budistas e freiras franciscanas, eles em meditação e elas rezando, dois cientistas da Universidade da Pensilvânia, EUA, o neurocientista  Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene D'Aquili, perceberam uma diminuição da atividade neuronal na parte de trás dos crânios daquelas pessoas, no lobo parietal superior. É a região do cérebro onde temos o senso de orientação no espaço e no tempo e também da diferenciação entre indivíduo e os demais seres e objetos. Privados dessa atividade neuronal, os budistas e as freiras sentiram uma perda da divisão de seus seres com as coisas desse mundo, ou seja, tiveram um sentimento de unicidade com o universo. É o mesmo sentimento de iluminação religiosa, êxtase, a perda do "eu" ao se misturar com o mundo ao redor. 

Veja, essa porção do cérebro funciona assim devido a sua estrutura determinada por genes, independente das crenças de cada um. As freiras rezavam com motivos cristãos e os budistas com o aprendido em suas vidas bem diferentes daquelas das freiras. E ambos os grupos chegaram à mesma situação, ou estado. Os antecedentes, ou pais, das freiras e dos budistas, passaram seus genes aos filhos e foram construídas regiões cerebrais "brutas", iguais em seus cérebros, a serem lapidadas diferentemente pela educação, ensinamentos, crenças e a cultura de onde vieram. Eles nasceram com tudo o que acreditam em seus cérebros? A resposta é não! Isto poderia ser provado? Bastaria não os ensinar sobre as suas religiões, mas quem faria isto? Ninguém, mas podemos imaginar sem erro da veracidade dessa proposição. 

Vejo pessoas doutrinadas desde crianças nos ensinamentos religiosos de seus meios sociais. E blasfêmia fora um ótimo termo para manter todo mundo ligado a eles. Até pode ter surgido com outras finalidades, mas o termo é feio, fere as convicções de cada um, ofende, é ligado a preconceito, etc. Todos possuem medo dela. 

Chamei este artigo de "O paradoxo dos gêmeos religiosos" porque, para quem não consegue mudar seu referencial, se desprendendo de tudo ensinado a ela em termos de, não só educação religiosa, mas, de informações e conceitos da religião local, do próprio contexto social, se colocando no lugar das pessoas de outras religiões, não irá entender nada aqui escrito. Poderá pensar em ser um paradoxo este texto, não saberá explicar as ideias apresentadas aqui. E na realidade não existe paradoxo nenhum. Confusão nenhuma. Existe para os que acham a religiões deles absolutas, corretas em relação as outras, e estas, apenas invenções de outros povos. E não é, e sim o acreditar e a fé são absolutos, reais a todas as pessoas. São inerentes à natureza dos homens e mulheres. 

O sociobiólogo Edward Wilson disse, em seu livro “Da Natureza Humana”, (2) que o ser humano criou mais de 60.000 seitas e religiões devido ao nosso medo da morte e do após a morte. Outras razões também mexiam e mexem conosco como o fato de se querer explicar a origem de tudo, da natureza, de nós mesmos, de como lidarmos com o bem e o mal, o porquê das suas existências, etc. Nós seres humanos sempre tivemos a capacidade para acreditar em algo e passamos aos nossos descendentes no planeta inteiro em diferentes épocas. Por isso a existência de tantas crenças diferentes até hoje e citei apenas poucos aspectos de três delas neste artigo para o entendimento do leitor. Nenhuma delas é absoluta. No xintoísmo japonês, a mais praticada no Japão, por exemplo, o mundo foi criado a partir de pingos d'água produzidos através de uma lança atirada ao mar por um casal de deuses. Esses pingos se transformaram em ilhas. Na época do surgimento dessa crença, os japoneses, seus ancestrais, não conheciam os continentes, nem sabiam de um planeta esférico repleto de outras ilhas e continentes. Eles procuraram uma resposta com relação às misteriosas paisagens no horizonte: mar e algumas ilhas. Veja o meu artigo "O surgimento de uma religião como uma necessidade humana". (3) 

Enfim, as religiões buscaram respostas para grandes mistérios perpetuados na mente dos seres humanos, mas, esses mistérios acabaram sendo explicados nas mais variadas formas, tornando o conhecimento, ainda sem a ciência tradicional, uma verdadeira torre de babel. A ciência sim busca respostas satisfatórias porque   não lida com a emoção, a fé, o acreditar, e sim com a razão. E aí busca respostas "únicas". 

Uma religião pode "explicar" o surgimento do universo da sua maneira, absoluta para os seus seguidores. Mas outra explica de modo diferente... Absoluta também para os seus fiéis... Qual estará correta? Digo: explicações assim não são do campo dos sentimentos e emoções e, por isto, é dever das ciências, e só delas.  


Referências: 

1 – Argos Arruda Pinto. O relativismo religioso e o que existe por trás disto. 2007. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com/2007/03/o-relativismo-das-religies-e-o-que.html >. Acesso em: 27/09/2018. 

2 – WILSON, E. Da Natureza Humana. 1. ed. São Paulo: Editora EDUSP, 1981. 

3 – Argos Arruda Pinto. O surgimento de uma religião como uma necessidade humana. 2008. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com/2008/01/o-surgimento-de-uma-religio-como-uma_11.html >. Acesso em: 27/09/2018. 

domingo, 13 de janeiro de 2008

O acreditar e a fé como vantagens evolutivas

Começo este texto com as duas definições de acreditar e a fé, tiradas de um mesmo dicionário. Simplifiquei-as sem alterar o texto, evidentemente, apenas para não ficar cansativo ao leitor.

Acreditar: crer, dar crédito a, ter como verdadeiro. Abonar (-se), conferir reputação a, tornar (-se) digno de estima. Ter confiança.

Fé: crença, crédito; convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção. 2. Crença nas doutrinas da religião cristã. 3. A primeira das três virtudes teologais. 4. Fidelidade a compromissos e promessas; confiança: Homem de fé. 5. Confirmação. 6. F. de Cristo: a crença ou a religião cristã. F. divina: crença que se apoia na revelação.

Nota-se, de imediato, dois exemplos de absolutismo religioso nos itens “2” e “6”. Em “2”: cita-se “crença nas doutrinas da religião cristã”. Em “6” a “fé de Cristo: a crença ou a religião cristã” e também a “fé divina: crença que se apoia na revelação”.

Por que não colocaram diretamente em “2” algo como “crença que se apoia na revelação em todas as religiões do planeta, em todos os tempos?”. Óbvio, o dicionário é de um país cristão e faz-se necessário aparecer algo cristão! Por que não teria em “2”, “religião muçulmana”, “xintoísta” etc.? Seria exótico para quem lesse não é mesmo? Cristãos ouvindo falar em Xintoísmo?... O que é isto? Nunca aprenderam na escola e com os pais...

Em “6” falam da “fé em Cristo: a crença ou a religião cristã”. Citam um nome conhecido e respeitado por nós, cristãos. Mas por que não colocam outros nomes, também ligados a outras religiões? Aí, podem ter certeza, seria o fim do dicionário! E aqui surgem os motivos deste artigo: o meio moldando as cabeças, crenças, religiões, etc. - das pessoas, de forma radical, devido ao absolutismo religioso!

Um bebê vem ao mundo com nada ou quase nada de informações extra-genéticas. Conforme o tempo passa seu cérebro irá crescer, absorvendo estímulos do meio ambiente que o cerca, com seus neurônios se ligando de maneira a aprender, se comunicar, formar modelos da realidade – a água é fluida, escorre entre as mãos - etc. O que ele realiza, por exemplo, ao tirar sua mão de um copo de leite muito quente, é uma reação através de informações intra-genéticas. Já trouxe consigo, como uma reação natural do tato, engendrada em seu cérebro pelos seus genes, mas agora outro sentido, a visão, e, em conjunto com a inteligência e sua memória, o farão a ser cauteloso em situação parecida, chegando com sua mão próxima a outro copo, com aquele líquido branco, verificando se pode pegá-lo ou não. Observará sua mãe esquentando aquele líquido no fogo em outro recipiente para colocá-lo em copos. Isto são experiências a ensinar as pessoas sobre o mundo diante de si. A informação extra-genética é algo muito poderoso em sua vida.

Mas não só o intelecto atua na criança em seu despertar para as informações e experiências vitais ao seu desenvolvimento e adaptabilidade. As emoções estão presentes também. Ela voltará a comer uma fruta, do tipo daquela em que o gosto lhe proporcionara uma sensação maravilhosa de bem estar, de prazer, satisfazendo seu desejo mesmo sem fome. Vontade, ânsia, desejo, emoções básicas do ser humano quando da interação com o seu meio ambiente.

Como disse em meu artigo “O Porquê dos nossos Sentimentos – II” - http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html, no meu blog “Neurociência, Teoria da Evolução, Sentimentos e Emoções” - http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/ e na revista eletrônica Cérebro&Mente – www.cerebromente.org.br - somos seres racionais e emocionais, não podendo separar uma característica da outra quando em muitos envolvimentos interativos. E acontecem nas mais diferentes formas e intensidades.

A alimentação é algo imprescindível na vida de um ser humano, na sobrevivência de sua espécie, mas também podemos falar em algo também importante, ligado ao seu bem estar e com a sobrevivência: o equilíbrio emocional. Irei falar sobre ele nos dois próximos parágrafos para depois relacionar com o que menciono abaixo deles.

Ele é fundamental em nossas vidas pessoais e profissionais. Sem ele não poderíamos viver na plenitude em que consideramos a vida para nós. Não dormiríamos quantitativamente e qualitativamente a repormos nossas forças, estaríamos em constante choque com os nossos semelhantes ou passivos demais para lutarmos em busca de nossas necessidades materiais, viveríamos com medo de tudo que nos cerca prejudicando seriamente nosso presente e futuro etc.

Nosso equilíbrio é afetado por desordens internas e/ou externas a nós. Nascemos com metade dos genes de cada um de nossos pais. Os genes constroem nossos cérebros a partir da concepção e um ou mais erros nessa construção poderão levar-nos a problemas mentais no futuro. Mas não é só isto. Conforme o cérebro se desenvolve da idade infantil até a fase adulta, os estímulos negativos e positivos do meio, simplificando ao máximo possível esse fato, poderão afetar as ligações sinápticas dessa arquitetura neural, levando-o a um mau funcionamento de várias de suas áreas. Isso acarreta em comportamentos inadequados ao mundo em nosso redor.

Uma criança tem em seu início de vida muita informação passada pelos pais, irmãos, parentes, amigos, escola etc. Seu cérebro vai se desenvolvendo com todas essas informações e também com conceitos a respeito de tudo. Essa época em sua vida é uma das mais importantes na formação de seu caráter e personalidade.

Imagine por exemplo uma criança em que seu meio ambiente é formado por pessoas adeptas do cristianismo. Logo cedo alguém diz para ela: “olha, existe um Deus que criou tudo que existe no mundo”. “Ele criou o céu que você à noite, as estrelas, o Sol etc... Plantas, animais, os rios...”. É evidente a aceitação, a admissão por parte da criança de informações deste tipo, pois vêm de pessoas importantes para ela e porque, naturalmente, existe uma poderosa capacidade dela em... Acreditar! Uma questão ela pode achar absurda, deixar para lá, poderá ouvir mais o pai que a mãe sobre um fato religioso etc. Dá para imaginar a quantidade de conceitos e informações e como são passados a ela de forma inquestionável e... Absoluta?

Na escola, com amigos, nas outras cidades e regiões de seu país, com pessoas adultas que mal a conhece etc., todo o seu meio sintonizado no cristianismo. Ela cresce sendo ensinada do modo como o seu meio ambiente é, e, de uma maneira ou de outra, acredita nas histórias. Seu cérebro se desenvolve com essas informações e é possível, quando jovem ou adulta, passar a estudar e crer em outras religiões. Mas, na maioria dos casos, agora generalizando, terá uma marca permanente desde a infância. Seus neurônios se ligaram formando redes quase indestrutíveis...

Simplificadamente, para o propósito no qual me dedico a este artigo, os fatos ocorrem deste jeito, com o futuro adulto passando a acreditar nos ritos, dogmas, crenças etc., do... Cristianismo! Da igreja a ele associada!

Acreditar é crer, ter como verdadeiro. Fé é crença, crédito, confiança, convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção. A pessoa a qual estou me referindo aprenderá, acreditará e terá fé naquilo que a ensinaram, sentindo que pode reverenciar seu Deus para qualquer propósito.

No meu artigo “O Surgimento de uma Religião como uma Necessidade Humana”, http://orelativismodasreligioes.blogspot.com/2008/01/o-surgimento-de-uma-religio-como-uma_11.html, cito um grupo de homo sapiens em uma ilha, em que ideias sobre de onde vieram, porque estão vivos e para onde irão após a morte, é um fato presente e perturbador em suas mentes. Questionamentos como este sempre existiram na imaginação das pessoas em todas as épocas e lugares. 

O equilíbrio emocional pode sim ser alterado se as pessoas não tiverem a capacidade em crer e colocar esta vantagem em prática. Naturalmente, quase automaticamente isto é feito, devido à condição em que viemos a este mundo, com consciência, fé e amor próprio, sendo isto um tema já abordado por mim em “O Porquê dos nossos Sentimentos” no meu blog “Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências”:
http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com/2008/01/o-porqu-dos-nossos-sentimentos_28.html, e também na revista eletrônica Cérebro&Mente –www.cerebromente.org.br. Em minhas palavras: “A consciência, indo mais longe, precisa necessariamente de, no mínimo, dois suportes emocionais para perpetuar, duas forças poderosíssimas: a fé e o amor próprio. Que espécie de seres conscientes conseguiria sua perpetuação se não acreditassem em si mesmos? No seu trabalho, na sua luta diária? Ou, como na maioria dos habitantes do planeta, em algo divino para se apoiarem? Nem levantariam da cama! E que sistema poderia também sobreviver se não gostasse de si próprio? O que adianta um corpo forte em uma mente fraca? Talvez cheguemos a um fato universal: qualquer ser consciente no cosmos terá este tipo de característica. Talvez não exista nada somente racional”.

Conforme nas definições de acreditar e fé, o acreditar pode ocorrer sem a fé. Você acredita em algo, mas não possui fé naquilo, não coloca suas forças e energia se valendo deste sentimento poderoso. Um cristão pode acreditar em Deus, mas não ter fé suficiente para seguir sua religião como outros o fazem. Mas ele acredita... E acreditar, como se vê na definição, é “tomar como verdadeiro”. Mas como ele possui essa verdade? As definições de tudo de sua religião? Foram passadas, como disse acima, muitas informações, conceitos etc., pelo seu meio ambiente: seus pais, escola, ambientes sociais... E fatos desses tipos acontecem em todo o mundo, em todas as épocas, é válido para tudo que o homem criou até hoje como deuses, Deus, dogmas, seitas, rituais, religiões etc. Meio ambiente não é só a natureza... Para o homem o conceito é amplo, maior que para outros organismos vivos em seus habitats, mesmo possuindo relações sociais sofisticadas em relação a outros, como os primatas.

Um ateu, embora tenha uma percepção em que consegue imaginar algo além do mundo material, propriedade esta comum aos humanos, não acredita em deuses ou Deus, influenciando nosso mundo. Não sente nada, “não precisa” e mesmo se sentir alguma coisa poderá rejeitar usando sua lógica, por exemplo. Dirá o seguinte: “é uma invenção da minha mente”. Ele é minoria nas populações porque essas sim necessitam da fé e do acreditar. Agora, ele acredita em si próprio, possui fé em si mesmo, porque senão, novamente mencionando uma frase, ele nem levantaria da cama para... Viver! Viver em seu conceito que todos conhecem: trabalhar, passear, estudar etc. Por isso eu disse “quase automaticamente” no antepenúltimo parágrafo acima... Acorda, levanta e começa um novo dia... Sempre fora assim para nós humanos e sempre será...

Outra pessoa possui fé inabalável em suas crenças! Seja qual for a sua religião, o que passaram a ela, os dogmas e rituais são absolutos a ponto de melhorar seu estado emocional quando necessário.

Isto dá um artigo inteiro, mas, por exemplo, pense em alguém que perdeu um ente familiar, próximo. Ela é cristã e acredita, possui fé suficiente para pensar, sentir, que seu familiar estará em um lugar próximo a Deus, na forma de alma... Espírito... Difícil, simplificando o assunto, achar alguém mais forte que ela. No mínimo suportará a dor quanto à outra cristã praticante.

Em “E o Homem Criou Deus”:
www.orelativismodasreligioes.blogspot.com e www.genismo.com, falo com estas palavras: “É confortante para o homem acreditar em algo superior, transcendental, que o ajude e o ampare. Ter consciência do mundo, da existência de uma separação entre nós e o que nos cerca, pode levar-nos a uma solidão juntamente com uma insuportável crise existencial. O homem não aguentaria viver neste mundo sem algo de superior a acreditar. Mais uma vez, outro “amortecedor” natural oriundo da fé”.

Então temos: sentimentos a respeito de viemos, porque estamos aqui e para onde vamos após a morte. A impossibilidade de entender o infinito e, aqui, colocando esta questão, digo que o ser humano sempre buscou algo para justificar, entender a criação... Para o homo sapiens tivera que existir algo a criar tudo e como esse tudo não era pequeno, o “algo” necessariamente seria superior. Ou “algos”, referindo-me a deuses porque a maioria das sociedades humanas até hoje foram politeístas.

A capacidade humana em acreditar e possuir fé, sociedades a criarem religiões, seitas, crenças, etc., como forma de entender questões cruciais de suas existências, de suas condições por vezes limitadas, porque senão, o próprio equilíbrio emocional estaria comprometido. Aliás, um vem junto com o outro, deixando as pessoas com uma razoável estrutura emocional para viverem em um mundo muitas vezes hostil. E isto se aplica até hoje... Sem estrutura emocional, sem equilíbrio, você teria uma vida confortável em muitos aspectos? Não! Ele não é necessariamente tudo, mas é muito importante.

Um sistema complexo, consciente de si, capaz de imaginar por lógica que existe um mundo além do nosso, teria que possuir vantagens evolutivas como o acreditar e a fé, a preencher esse outro mundo com seres sobrenaturais capazes de realizações a nosso favor. Elas fazem parte de outros sentimentos e emoções necessários à sobrevivência de nós, humanos, no planeta.

Uma professora minha contou à classe que, um ateu, ao saber de sua aprovação em um concurso, disse: “graças a Deus!”. Daí ela completou: “mesmo os ateus ainda possuem alguma credulidade, ainda que não a admitam”. Não! Somos “bombardeados” desde crianças a tantas expressões: “Deus lhe pague”, “Deus quis assim”, “Deus te ouça”, “vá com Deus”, “fique com Deus”, etc., que é muito fácil uma pessoa incrédula “soltar” uma frase dessas em um momento de emoção.