segunda-feira, 19 de março de 2007

O relativismo religioso e o que existe por trás disto

Escrito em: 19/03/2007. 
Revisado em: 09/10/2018. 

Palavras-chave: Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo, Religião, Darwin, Edward Wilson. 

Cristianismo: a religião cristã. A maior do planeta com cerca de 2,2 bilhões de adeptos. Nela, Jesus Cristo é Filho de Deus e a Bíblia o livro sagrado onde Eles ensinam Suas palavras e Suas vontades a Seus seguidores. 

Islamismo: a religião muçulmana. Com um número aproximado de 1,3 bilhões de adeptos, Alá é o seu deus e Maomé o seu profeta. O Corão é o livro sagrado no qual o anjo Gabriel revelou a Maomé os ensinamentos e as vontades de Alá. Para os muçulmanos Jesus é apenas um profeta em nível terreno e humano. Diga a eles que Cristo é filho de Deus e você será motivo de gozação! 

Hinduísmo: aproximadamente 900 milhões de seguidores. Cultuam um grande número de deuses e deusas como Brahma, Vishnu e Shiva. Shiva destrói o universo enquanto Vishnu dorme boiando em um oceano. Brahma, em cima de uma flor de lótus, nascida no umbigo de Vishnu, reconstrói o universo. Existente há mais de quatro mil anos, o hinduísmo é diferente e muito do cristianismo e do islamismo. Não há um livro comum ou um conjunto de textos comuns seguidos pelos hindus, embora os Vedas e o Bhagavad Gita sejam bastante populares. Diga a um hindu que Alá é um deus e você será motivo de gozação! 

Budismo: possui entre 300 e 400 milhões de adeptos e se desenvolveu a partir de Sidarta Gautama, o Buda. As escrituras e ensinamentos budistas são complexos e variados, mas existe uma Lei de “Originação”, na qual todos os fenômenos do universo estão ligados entre si em uma infindável cadeia de interdependência. O budismo não reconhece nenhum deus criador, onipotente, onipresente e onisciente. Diga a um budista da tríade Brahma, Vishnu e Shiva, como os agentes criadores e destruidores do universo, e você será motivo de gozação! E também será motivo de gozação se disser a um cristão sobre a negação budista de um deus criador! 

Essas são as quatro religiões com os maiores números de adeptos no mundo inteiro. Não estou criticando certas "verdades" de cada uma, apenas, e isto não é pouco, mostro o quanto de ridículo pode existir se confrontarmos algumas ideias ou preceitos de cada uma entre seus seguidores. E coloquei em sequência partindo do islamismo estranhando o cristianismo, até este sendo ridicularizado pelo budismo. Uma circularidade patética devido às crenças de cada uma, ridicularizando as outras com suas próprias ideias absolutistas.  

Qual dessas religiões está certa em crenças, princípios e dogmas, etc.? E quanto às outras existentes? 

Edward Wilson, um dos criadores da sociobiologia, relata em seu livro “Da Natureza Humana” a criação de mais de 60.000 seitas e religiões criadas pelo ser humano. E podemos dizer sem dúvida alguma da certeza da existência de seguidores em todas elas com a mesma carga emocional de fé dos adeptos das quatro citadas acima. Não é porque, por exemplo, o cristianismo, sendo predominante em países avançados tecnologicamente e financeiramente, está correto em princípios e ensinamentos com respeito a uma seita indígena acreditando em deuses das florestas, rios céu, terra, etc. Encontraríamos índios com a mesma intensidade de fé em seus deuses como um grande sacerdote católico acredita no Deus cristão. Então, em resposta à pergunta do parágrafo mais acima, posso dizer: nenhuma está correta em relação à outra. E não adianta proferir aquela frase tão comum por aí: “as religiões se referem a um mesmo deus”. Existe o hinduísmo politeísta e o budismo sem nenhum deus. E a maioria das religiões até hoje foram politeístas! 

Existe sim uma relatividade enorme entre elas. E de absoluto a capacidade do homem em sentir e acreditar! E aqui está o propósito deste artigo. 

Em outro artigo meu, “E o homem criou Deus”, (1) falo da necessidade biológica do ser humano em acreditar em algo imaterial, muito poderoso, para não se sentir sozinho, indefeso e com um grande vazio dentro de si, com questões existenciais profundas, inexplicáveis, como “quem somos nós?”, “qual o sentido da vida?”, “por que existe o bem e o mal?”, etc.   As forças evolutivas selecionaram uma “muleta” emocional sem a qual o cérebro, consciente de si e do próprio corpo, pereceria com desequilíbrios emocionais decorrentes dessas questões e desse vazio angustiante. 

Falo de um sistema racional e emocional indo além de um sistema lógico. 

O medo da morte, segundo Wilson, fora o principal motivo do homem criar tantas seitas e religiões. E vou além. Todo ser vivo, consciente de si no universo, e, por isto, capaz de formular as questões existenciais acima, seria fraco demais se não houvesse essa “muleta” emocional a garantir sua sobrevivência. 

Claro, estou falando de Darwin. 


Referência: 
1 – Argos Arruda Pinto. E o homem criou Deus. 2007. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com/2007/10/e-o-homem-criou-deus.html >. Acesso em: 09/10/2018.

Consciência, genes e nada sobrenatural

Escrito em: 19/03/2007. 
Revisado em 19/08/2022. 


O cérebro humano é uma máquina físico-química com aproximadamente cem bilhões de neurônios. Toda essa maquinaria, junto com outros tipos de células, é responsável pelos nossos pensamentos, imaginação, abstrações, sentimentos, emoções, etc., e, também,  nosso caráter e personalidade. 

Tudo isso são, provavelmente, em sua maioria, propriedades emergentes das reações físico-químicas, ou seja, propriedades situando-se em níveis superiores dessas reações, mas dependentes destas. 

Uma pergunta difícil de ser respondida é aquela na qual se questiona se podemos entender, na totalidade, o funcionamento dessa maquinaria. Não precisaríamos de uma mente superior para entendermos uma inferior? Podemos criar circuitos neurais e aproximá-los em propriedades da nossa forma de pensar e sentir? Talvez não mas pode ser uma questão em aberto.

Outra questão sempre me intrigou com relação às nossas mentes: a consciência; uma propriedade das mais complexas, talvez a maior dos nossos cérebros. É a capacidade de um sistema voltar a si mesmo, corrigir erros, analisar as suas verdades e afirmações, etc. O único sistema assim conhecido é o cérebro humano* produzindo a consciência e, ao voltar sobre si mesma, tendo consciência dela própria, é a propriedade mais intrigante que podemos imaginar: a autoconsciência. 

Nenhuma lei científica ou um conjunto delas conseguem explicar essa façanha e assim seria fácil para animistas ou criacionistas dizerem de algo sobrenatural guiando nossas mentes ao gerar a consciência. 

Não é bem assim. Apesar de não termos leis matemáticas ou biológicas elucidando essa questão neural, temos um recurso, uma pista, a nos apoiar: nossos genes. 

Eles são os agentes de construção de todo nosso corpo incluindo o cérebro. Tudo funciona como funciona porque nossa estrutura, construída com base nos genes, é do jeito que é. 

Então o cérebro é um sistema possuindo propriedades, realizando as mais diversas funções, devido a sua estrutura construída de acordo com os nossos genes. 

Não importa no momento o quanto compreenderemos as propriedades cerebrais, e se com as leis científicas ou com a codificação dos genes. Importa é saber que nada vem de algo sobrenatural. 

A consciência, talvez a mais complexa propriedade cerebral, vem de uma estrutura, o cérebro, construído por agentes determinados pelo nosso DNA:  nossos genes. Tudo matéria e energia conhecidas por nós e seria um absurdo pensar que o cérebro seria construído para funcionar com uma alma.


Nota:
(*) António Damásio, neurocientista português naturalizado estadunidense, diz em seu livro “O mistério da consciência” (2000), que os outros mamíferos também possuem consciência, mas por instantes.

Egoísmo versus Altruísmo: só o homem poderá salvar o próprio homem

Escrito em: 19/03/2007. 
Revisado em: 08/10/2018. 

Palavras-chave: Altruísmo, Egoísmo, Religião, Salvação. 
  

Cena comum em cidades no mundo inteiro: um mendigo enfermo sentado em uma calçada pede uma esmola a alguém. Existem vários tipos de pessoas e podemos obter algumas conclusões de um episódio desse. 

Uma passa pelo mendigo, não dá nada, não possui nenhum sentimento humanitário, solidário. Outra dá algum dinheiro porque tem pena daquela pobre criatura. Outra mesmo com pena não cede. Enfim é uma situação nada simples e se poderia falar em dezenas de reações dos pedestres. 

Mas um fato eu afirmo categoricamente: muitas, mas muitas pessoas sentem, lá no fundo, um certo peso na consciência. Elas são a única salvação do enfermo, mas não se mobilizam para salvá-lo, nem a outro. Não entram para alguma associação de caridade, não se envolvem. Claro que não, o egoísmo é poderoso. Poucas praticam o altruísmo. 

Muitas rezam pelo próximo em suas igrejas ou mesmo sozinhas em casa, pelos cuidados de Deus. Ficam aliviadas, extraem o peso de suas consciências porque delegam a um ente abstrato uma responsabilidade só sua. Unicamente sua. Fácil não?!
  
Por natureza somos e vivemos entre dois polos: o egoísmo e o altruísmo. Estaríamos extintos se fôssemos 100% só um deles. Só egoístas não formaríamos sociedades, famílias. Só altruístas esqueceríamos de nós mesmos por completo. Nem conseguimos pensar direito como seríamos totalmente. 

Onde quero chegar? Bem, sou otimista quanto ao nosso futuro como espécie animal. 
Milhares de anos de cultos, seitas e religiões e o homem não aprendeu muito a respeito de solidariedade, humanidade e altruísmo. Continuamos nos matando e explorando uns aos outros. 

Não é possível extirpar nosso lado egoísta, mas podemos e devemos desenvolver o nosso lado altruísta. E será com este lado com o qual o homem aprenderá a dar mais valor ao seu semelhante e, o mais importante, agirá em benefício deste. Não quero dizer em substituição das religiões: temos um lado de acreditar em algo superior e mais de 90% da população mundial possui alguma crença. 

Já a ciência e a tecnologia, em dois ou três séculos, aumentaram e muito a vida média das pessoas, colocaram o ser humano em uma época de maior conforto de sua história e irão reparar os danos oriundos desse avanço. Isso é o ser humano se voltando ao próprio ser humano. E neste ponto entra a Educação em geral! 

Imaginem novos materiais a construírem moradias mais baratas, alimentos nutritivos e acessíveis à população de baixa renda, mais trabalho, assistência médica, etc. 
Se com o egoísmo nada disso valeria, a prática do altruísmo pode levar o ser humano a um patamar em qualidade de vida nunca imaginada por ninguém. Só religiões não bastam! 

  
Nota: 

A salvação espiritual pregada pelo cristianismo e todas as outras religiões prometem e conseguem melhoras em pessoas de seus estados emocionais negativos.  E poderão assim ter uma melhora na qualidade de vida conseguindo estabilidade financeira e melhores níveis de vida em conforto, bem-estar e saúde. Mas a neurociência está provando que a prática das religiões envolve áreas cerebrais responsáveis pela ansiedade, angústia, depressão, etc. Na verdade, então é uma melhora psicológica. Psiquiatria, psicologia e a neurociência, entre as suas ramificações, poderão substituir e/ou ajudar qualquer prática religiosa para os males do cérebro. Mais uma vez é o ser humano se voltando ao próprio ser humano.